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o meu laboratório

No tubo de ensaio estão as minhas experiências e emoções. Da reflexão, aprendizagem e partilha, nascerá a fórmula da minha realização.

o meu laboratório

No tubo de ensaio estão as minhas experiências e emoções. Da reflexão, aprendizagem e partilha, nascerá a fórmula da minha realização.

Hoje não é um dia bom

19.05.21

Ontem à tarde a minha energia quebrou.

Após desligar o Skype de uma sessão intensa e produtiva, invadiu-me uma espécie de melancolia e, quase de repente, o entusiasmo das últimas semanas esbateu-se. Em vez de me entregar ao estudo e à reflexão, como habitualmente faço nestes dias (pois fico bastante energizada depois destas conversas), entreguei-me ao sofá e à série "The Crown" do Netflix.

Não me apetecia fazer nada. Não me apetecia pensar.

Não deixa de ser curioso que uma das minhas últimas partilhas da sessão, foi de como me sentia bem e confiante, como os exercícios e reflexões das duas últimas semanas tinham-me permitido ligar alguns pontos e ganhar consciência de mecanismos de radicalização, quando "mastigo" alguns dos momentos mais difíceis do meu passado profissional. Tenho bem presente a curva em "U" deste processo mas honestamente não me sentia de maneira nenhuma a quebrar, pelo contrário.

As fases da mudança.jpg

Depois destas horas de neura, resolvi ir olhar novamente para esta curva e definitivamente, saí da casa da partida. Não é que a esperança me tenha abandonado, até porque sou positiva (e teimosa), mas de facto o pensamento "vai tudo correr bem porque tenho um plano" já não é suficiente para apaziguar esta sensação de dúvida e até algum pânico que me invadiu.

Dúvidas houvessem, o meu corpo encarregou-se de reforçar este momento de viragem. Além da falta de entusiasmo e total desconcentração, a noite de sono foi anormalmente agitada e o novo dia veio em forma de vómito. Cancelei as aulas de mota, o que me irritou profundamente, pois nem a perspectiva de realizar este sonho antigo muito em breve, me deu energia para sair de casa. 

Fiz um chá e resolvi escrever. Está sol, estou no jardim com os gatos e as andorinhas, mas esta sensação ao nível das entranhas não desaparece. Uso a escrita para me ajudar a pensar e abrir a porta para uma maior serenidade. Preciso de voltar a equilibrar e aliviar esta pressão no peito. 

Vamos lá então "descascar" isto.

Apesar de não me apetecer pensar, desde ontem à tarde, há um pensamento que persiste e que julgo ser a razão (ou uma delas) para este meu desconforto:

Há fortes probabilidades do meu futuro passar novamente pelas "organizações". 

Em consciência e quando analiso racionalmente, sei que existem diversos sinais que dão esta resposta. Mas sendo eu um ser tão emocional, nesta fase de vulnerabilidade em que me encontro, a ideia de voltar às organizações provoca-me pânico. Desde a primeira hora que o meu maior "Não Quero!" é este. Não quero voltar aos ambientes tóxicos, às hierarquias, às politiquices e cinismos. Conheço o custo pessoal de estar neste contexto e nunca mais quero voltar lá.

Sim, eu sei. Há organizações e organizações. Existem bons exemplos e boas práticas.

Além disso, reconheço que parte do que me aconteceu (e marcou tanto esta minha posição) foi também da minha responsabilidade, por não saber dizer "não" na hora certa ou colocar uma pressão adicional sobre mim mesma, mesmo quando ninguém à minha volta o fazia. Também sei que todo o trabalho que tenho realizado nestes meses me ajudará a "fazer diferente" em contextos onde sou tendencialmente emocional, a ter mais consciência dos meus limites, mas sobretudo a respeitá-los. Por outro lado, também já aprendi que as entrevistas podem ser bem diferentes do passado (verdadeiras ratoeiras para uma believer como eu), desde de que vá munida das perguntas certas e com disponibilidade unicamente para propostas que se alinhem com o meu propósito.

Apesar de saber isso tudo, continuo com esta reacção quase alérgica à ideia. Ler anúncios de emprego dá-me náuseas.

Admito que possa estar a olhar para os anúncios errados, pois tipicamente olho para contextos da minha função anterior. Provavelmente, esta é a próxima peça do puzzle que tenho encontrar pois, no dia de hoje, ainda não faço a mínima ideia que "nova" função possa vir a ter numa nova organização (se este for o caminho).

Paradoxalmente, o que alimenta esta ideia de voltar às organizações, são as minhas dúvidas em relação ao empreendedorismo. Começam com o simples facto de não ter nenhuma ideia (nem uma luz!) sobre o que empreender, e são complementadas com uma sensação de desalinhamento com a linguagem actual do empreendedorismo, com o qual não me revejo. Por outro lado, não consigo identificar um formato (ai a falta de luz) que responda a algo que é cada vez mais óbvio para mim, o meu futuro passa por trabalhar com pessoas e para as pessoas.

Acho que foi durante o trabalho sobre o meu Career Sweet Spot e na análise ao meu perfil de personalidade que esta ficha me caiu. Percebi que muitas das minhas forças, quanto em contexto desadequado, podem ser muito prejudiciais (e de facto, já foram). Por outro lado, o foco nas pessoas, a empatia, a liderança, a atitude empreendedora, a comunicação e a capacidade de influência são características que, obrigatoriamente, farão parte do meu trabalho no futuro.

E é nesta confusão que me encontro. Melhor agora, depois de ter escrito este post. Sei que são muitas as perguntas e que estas me criam alguma angustia por tanto querer as respostas certas. E elas virão, no seu devido tempo.

E porque o desabafo já vai longo e o Yoga chama por mim, termino com o poema "Sísifo" de Miguel Torga:

Recomeça…
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És Homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

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